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quarta-feira, 8 de julho de 2009

A química do amor - Pesquisa estuda mecanismo genético de atração entre casais na espécie humana

Se você levou fora de uma mulher e nunca soube por quê, não se preocupe. A resposta pode estar nos seus genes, mais precisamente em seu MHC – região do genoma responsável pelo sistema imune. Pode parecer estranho, mas, ao que tudo indica, essa região cromossômica pode ser decisiva quando uma fêmea escolhe um parceiro.

MHC é a sigla em inglês para Complexo Principal de Histocompatibilidade, e cada indivíduo apresenta uma configuração única para essa região. O que cientistas de todo o mundo descobriram nas últimas décadas foi que, para aumentar a variabilidade genética dos descendentes, fêmeas de várias espécies optam por formar casais com machos que tenham o MHC mais diferente possível do seu. E, ao que parece, as mulheres não fogem à regra.

Essa atração já foi observada em camundongos, vertebrados em geral e até mesmo em humanos. Mas um trabalho inovador nessa área foi apresentado em junho à Sociedade Europeia de Genética Humana, em Viena, Áustria, pela geneticista Maria da Graça Bicalho, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Muitos testes de MHC com humanos já foram feitos em laboratório. Mas desta vez resolvemos estudar dados populacionais de verdade”, diz Bicalho. “Analisamos 90 casais estáveis e, na grande maioria deles, constatamos diferenças significativas em relação ao MHC.”

Os diferentes se atraem
A explicação para essa atração é simples: quanto maior a variabilidade genética da espécie – em especial da região MHC –, mais eficiente será sua performance imunológica (entre outras vantagens). Trocando em miúdos, se uma fêmea escolhe um parceiro de MHC muito semelhante ao seu, a prole poderá ter uma variabilidade genética limitada, resultando em um sistema imune menos adaptado. Por outro lado, se ela escolhe um macho de MHC muito diferente do seu, os descendentes tenderão a ser mais aptos em termos imunológicos. “Não é uma atração entre opostos, e sim uma atração entre diferentes”, esclarece a geneticista.

Mas a pergunta que não quer calar é: afinal, como uma fêmea sabe qual é o parceiro que a complementa do ponto de vista genético? Segundo a maioria dos pesquisadores, essa percepção está relacionada ao olfato. Bicalho acredita que os genes da região MHC condicionam a produção de alguma molécula volátil que atua de modo semelhante a feromônios (substâncias segregadas por animais, especialmente insetos, que servem de meio de comunicação entre indivíduos da mesma espécie ou são atraentes sexuais). "Diversidade genética é algo desejável para o sucesso de uma espécie, e as fêmeas sabem disso intuitivamente devido à ação desses feromônios", diz. A propósito, a pesquisadora se pergunta: “O mecanismo não atuaria também em nossa espécie?”.

Segundo a pesquisadora, o MHC confere a cada indivíduo um tipo de 'cheiro' específico. “Esse ‘cheiro’ é percebido por receptores olfativos especializados que ficam no interior de nosso nariz [órgão de Jacobson, ou órgão vomeronasal], e isso induz à mudança de comportamento reprodutivo”, explica. “A maior parte das espécies tem essa percepção olfativa, e com os humanos não é diferente.”

Breve histórico das pesquisas
Testes de MHC em ratos e outros animais são feitos há décadas. Em 1995, pesquisadores suíços resolveram estudar esse comportamento em humanos. Recolheram camisetas usadas de jovens universitários do sexo masculino e, em seguida, as deram para que suas colegas do sexo feminino cheirassem. Era conhecida a tipagem MHC de cada um deles, e os resultados foram conclusivos: na maior parte das vezes, as estudantes avaliaram como mais agradável o cheiro do homem cujo MHC era o mais diferente possível do delas.

“Repetimos esse experimento em 2005 na UFPR”, conta Bicalho. Mas, em vez de camisetas, foram usados colares com sachês de algodão. Estudantes usaram esse utensílio por uma semana, para que o odor ficasse impregnado no colar. “Após o teste do cheiro, chegamos a conclusões muito semelhantes às dos pesquisadores suíços”, diz a geneticista.

Mas a inovação na última pesquisa de Bicalho, concluída este ano, foi o uso de dados da própria população. “Dessa vez estudamos casais estáveis.” E, como era de esperar, os resultados também foram semelhantes. “Constatamos que, na maioria dos casais estáveis, a diferença de MHC entre o homem e a mulher é consideravelmente grande.”

Bicalho reconhece que os mecanismos de atração em humanos não podem ser reduzidos unicamente a padrões genéticos. “Diferente dos outros seres, temos uma série de fatores culturais, comportamentais e psicológicos que influenciam nossas escolhas. A decisão entre um parceiro e outro não é um determinismo genético”, ressalta. Mas ainda assim os componentes biológicos de uma escolha não podem ser ignorados. Afinal, como lembra a pesquisadora, “pertencemos ao reino animal”.


Henrique Kugler
Especial para a CH On-line / PR

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